Diante do clamor da sociedade mundial por um planeta mais limpo e saudável, bem como da necessidade de preservação das inúmeras espécies de seres vivos, dentre outros motivos, seguramente há mais de meio século o homem vem buscando meios para combater a poluição do planeta. Uma infinidade de movimentos, institutos e organizações ligados aos problemas climáticos e ambientais foram e vem sendo criados ao longo de décadas – desde a Conferência de Estocolmo em 1972 – visando obter a fórmula perfeita ou a solução ideal para estes problemas.
Mais recentemente, já no final do século XX e início do século XXI, eventos como ECO92, Rio+20, as COPs, o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris vem tentando envolver e compromissar as principais nações mundiais, no sentido de reduzir drasticamente a poluição atmosférica, porém mais fortemente relacionada aos gases do efeito estufa (GEE), uma vez que são justamente estas nações as responsáveis pela maior carga de poluição lançada no meio ambiente. Vejamos o ranking dos 15 países que mais poluem no mundo:
Apesar da contribuição relevante de outros gases (GEE), o acúmulo de CO₂ (dióxido de carbono) em particular na atmosfera é a principal causa do aquecimento do planeta. Diante disso, evitar maiores níveis de aquecimento significa, a grosso modo, estabilizar a concentração desse gás na atmosfera. Dentro deste contexto, cada vez mais países, cidades e até mesmo empresas têm se comprometido a incorporar a questão climática em seu planejamento e, frequentemente, tais compromissos se baseiam em metas de atingimento da condição de net zero CO₂ até 2040, 2050, 2060 ou 2070.
Mas o que significa net zero CO₂? É uma expressão derivada do inglês (net zero carbon) ou Emissão Líquida Zero de Dióxido de Carbono e refere-se a uma condição em que a emissão de gases do efeito estufa – GEE – é equilibrada pela sua remoção na atmosfera, através de métodos de captura ou “sequestro” dessa substância. Conforme ilustra a figura adiante, o motivo do aumento contínuo da concentração de CO₂ deve-se ao desequilíbrio que as atividades humanas causam no ciclo do carbono, ao retornar uma quantidade atípica de CO₂ à atmosfera, a qual estava armazenada por centenas de milhões de anos em reservatórios geológicos na forma de carvão, petróleo ou gás natural.
Assim, seria razoável assumir que resolver esse problema seria sinônimo de zerar, em absoluto, as emissões de dióxido de carbono. Esse raciocínio está correto, mas ignora um dado importante: potenciais atividades humanas que, em sentido inverso, retiram carbono da atmosfera. O exemplo mais palpável de remoção de CO₂ na atmosfera é o florestamento, pois ao se plantar árvores onde historicamente não havia florestas, forma-se um “estoque” vegetal de carbono devido à fotossíntese, reduzindo a concentração do referido gás na atmosfera (emissões negativas).
Analogamente ao florestamento, algumas tecnologias têm sido propostas para, na prática, tornarem possíveis estás “emissões negativas”. Uma dessas tecnologias é a polêmica DAC (do inglês Direct Air Capture) que preconiza a retirada do CO₂ diretamente do ar atmosférico. Assim, a condição de net zero CO₂ nada mais é do que o momento em que as emissões negativas se igualam às positivas, gerando emissões líquidas (net) de carbono iguais a zero. Em outras palavras, o mundo pode alcançar o net zero mesmo com emissões anuais positivas de CO₂, desde que haja um montante anual equivalente de carbono sequestrado (removido).
Referências:
https://br.noticias.yahoo.com/15-paises-que-mais-poluem-o-meio-ambiente-080016941.html
https://www.ecycle.com.br/net-zero/
Riahi, K., R. Schaeffer, J. Arango, K. Calvin, C. Guivarch, T. Hasegawa, K. Jiang, E. Kriegler, R. Matthews, D.P. van Vuuren (2022). Mitigation pathways compatible with long-term goals.
In IPCC (2022): Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change. Contribution of Working Group III to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change
Cambridge University Press, Cambridge, UK and New York, NY, USA. doi: 10.1017/9781009157926.005
Fankhauser, S., Smith, S.M., Allen, M. et al. (2022). The meaning of net zero and how to get it right. Nat. Clim. Chang. 12, 15–21. https://doi.org/10.1038/s41558-021-01245-w
Jaime Scussel
Diretor Executivo